Foto de S. (Ora abóbora!)
Esperteza
Saloia
Saiu
de casa ao romper da manhã, para que ninguém o visse. Antes que
alguém as roubasse, era urgente levar para casa as bolas amarelas
que cobriam o chão da horta. Nem tinha dormido, a matutar no
negócio: partidas em quartos e bem guardadas no congelador… Mais
uma despesa com que não contava, mas se no velho frigorífico não
havia espaço…
Uma
a uma, poisou-as em cima da mesa da cozinha e começou a parti-las.
– Ó
homem, que estás tu a fazer? – perguntou ela.
Ele
contou-lhe em surdina os sonhos da noite passada em claro, com o
sorriso do futuro espalhado no rosto. Ela ouviu-o atentamente, o
espanto saltando-lhe de dentro dos olhos.
– Encontraste
o sol no nosso quintal?! Partido em bocados?! Queres congelar nacos
de sol para quando ele desaparecer de vez do mundo?! Estás doido,
homem! Isto é uma abóbora, não vês que tem pevides? E que rica
sopa de legumes faço com ela!
- Ora
abóbora! – resmungou ele. – Pensando melhor, antes assim. Sem
sol, como é que eu tinha hortaliça na horta?
M
(2005)
2 comentários:
E a ironia latente, ou mesmo patente, neste caso sinónimo de uma enorme cumplicidade entre o fotógrafo e a escritora. Completam-se!
Tão bonito!
Diálogo perfeito!
E um quintal, mulher prática e homem a coçar a cabeça, estou a vê-los e ouvi-los.
B
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