quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

REFLEXÕES SOBRE UM DESAFIO PROPOSTO NO PALAVRA PUXA PALAVRA (*) 1.

Foto de M

S. Brás - S. Brás te afogue que Deus não pode

De São Brás e da sua vida nada conhecia até ao momento. Apenas relacionei o nome com a vila São Brás de Alportel. Procurei na internet, fiquei a saber do que dele diz a História e de como é venerado pelo mundo fora. A partir do momento em que salvou uma criança da morte por asfixia por lhe ter retirado uma espinha de peixe encravada na garganta passou a ser invocado contra os males da garganta. Diz a lenda que foi milagre: não lhe tocou, apenas olhou para o céu, rezou, e em seguida fez o sinal da cruz na garganta da criança e ela ficou curada. Parece-me mais plausível que, independentemente da sua religiosidade e da sua vida de eremita numa gruta no Monte Argeu, sendo São Brás médico, terá usado os seus conhecimentos de medicina. Mas que sei eu dos gestos humanos dos santos e das interpretações que deles faziam as populações em séculos tão recuados? De qualquer modo, independentemente da técnica aplicada, imagino o alívio que terá sido para a criança existir alguém capaz de lhe retirar a espinha que o sufocava. Nunca na vida passei por situação tão grave, apenas me aconteceu uma vez distrair-me a comer um peixe saboroso e engolir uma espinha fina que ficou presa na garganta, sem que eu conseguisse repescá-la. Felizmente consegui descolá-la daquele lugar de passagem no túnel do trânsito digestivo usando bocados de pão mal mastigados. Tenho tido sorte, sei de pessoas que precisaram de ir ao hospital. Seja como for, e por semelhança, penso no que devem sofrer os peixes sempre que um anzol camuflado de isco se lhes crava na boca e os arrasta para fora de água. Trágico. Não conhecendo eles nenhum São Brás que os salve do martírio, contorcem-se até à morte, pendurados nos fios das canas de pesca dos pescadores. O que me leva a crer que a expressão popular São Brás te afogue que Deus não pode não tem sucesso com peixes. Nestes casos até dava jeito que São Brás os afogasse, depois eles lá se recomporiam dentro do seu mar imenso. Será tamanha tortura consequência de desentendimentos entre reinos?

 
(*) Na primeira de 4 semanas dos desafios do PPP. Neste mês proposto pela Margarida, baseado no Borda D´Água de Fevereiro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois os teus dizeres levaram-me a viajar pelos três reinos, animal, vegetal e mineral. Foi uma bela e divertida redacção sobre engasganços, as pescarias, os pescadores e os pobres peixes enganados pelo anzol.
De S. Brás, sabia apenas dos milagres das gargantas aflitas e ainda outra coisa: o monte S. Brás fica em Santa Cruz do Bispo, aqui perto. Acampávamos lá nos anos 50, no adro da igreja porque que o padre era "arejado" para estes acampamentos desportivos. E havia "o homem da massa", uma estátua carcomida num alto do monte: S. Brás se dizia ser, romarias se faziam. E casamenteiro, mais para as mulheres seria: bastava darem um abraço à figura em pedra para ficar candidata certa ao casamento.
Tenho uma foto, mais tarde - não eu que nunca fui de "arranjos" desses - mas da minha cunhada mais nova. Que por acaso ??? casou, depois, duas vezes...
Não te mando a foto pessoal mas vou ver se encontro a imagem na net desse lugar da minha infância. E de pequenina que fui atenta a estátuas e pedras etc.
Abç

B

Justine disse...

Reflexão meio a sério, meio irónica, que me deu prazer ler, M.
Só não gostei muito da imagem dos pobres peixes a retorcerem-se com o anzol enviado na garganta...