Admirável esta comunidade de seres vivos agarrados a uma parede colorida, deteriorada, rugosa, e no entanto muito bela. A lembrar-me o mapa do mundo, num qualquer refúgio dos muitos lugares de terras e mares que o formam.
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Admirável esta comunidade de seres vivos agarrados a uma parede colorida, deteriorada, rugosa, e no entanto muito bela. A lembrar-me o mapa do mundo, num qualquer refúgio dos muitos lugares de terras e mares que o formam.
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Assim será cada um de nós, uma ilha. Rodeados de passos e caminhos pisados, pensei quando a vi. Estava maré baixa, as rochas maiores longe, tocadas pela mansidão das pequenas ondas. Esta, sozinha no areal. Não sei até quando.
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Fotos de M.
Não voltei a Gavinhos desde 2014 mas tenho gosto em partilhar algumas fotografias que nessa altura tirei e contar como consegui ver um moinho por dentro.
Telefonei para a Câmara Municipal de Penacova para saber se era possível visitar o interior de algum dos moinhos. Deram-me o contacto do único moleiro que ainda exercia a profissão e que aceitava fazer essas visitas. Lá nos encontrámos no alto da serra, ele de motorizada, eu e a família de carro. O Rocinante de D. Quixote e o burro de Sancho Pança não estavam por ali.
Desenroladas
as velas do único moinho em funcionamento, as únicas no grupo de moinhos tristemente
desmembrados, entrámos no espaço exíguo e assistimos com prazer a todas as
explicações que o moleiro nos dava sobre o processo de moagem dos grãos de cereais.
Como não voltei a Gavinhos durante estes oito anos, telefonei hoje de novo para a Câmara Municipal de Penacova para saber se aquela zona continuava abandonada. Disseram-me que grande parte dos moinhos tem sido comprada por pessoas que os adaptam para habitação e que só um está em funcionamento.
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P. S. Já depois de ter feito esta publicação, encontrei o link abaixo com informações muito interessantes sobre esta zona do país e sobre o funcionamento deste mesmo moinho. Em 2010. Alguém que esteve em Gavinhos antes da minha última visita lá.
https://meioseculodeaprendizagens.blogspot.com/2010/07/velas-ao-vento.html
Voltei a Gavinhos em 2014 e lembrei-me de D. Quixote de la Mancha...
«Nisto descobriram os trinta a quarenta moinhos de vento que há naquelas paragens. Mal D. Quixote deu com os olhos neles, disse para o escudeiro:
- Estamos com sorte, muito mais sorte do que aquilo que podíamos desejar. Abre-me os olhos e repara… repara-me para aqueles trinta e tantos desaforados gigantes! Vou-me a pelejar com eles e tirar-lhes a vida. Os despojos pertencem-nos e assim começaremos a erguer fortuna. E boa guerra é, que nada pode ser mais do agrado de Deus que riscar esta raça maldita da face da terra.
- Que gigantes? – interrogou Sancho.
- Aqueles que além vês de braços desmesurados. Alguns medem quase duas léguas de comprido…
- Atente bem, Vossa Mercê. O que se descortina além fora não são gigantes, mas moinhos de vento. E o que parecem braços não são senão as velas que, sopradas pela aragem, fazem girar as mós.
- Bem se vê que és um pexote em matéria de aventuras. São gigantes, que to digo eu. Se tens medo, põe-te de largo e reza enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha. (…)»
Miguel de Cervantes in D. Quixote de la Mancha, versão de Aquilino Ribeiro (Capítulo VIII, págs. 62 e 63), Bertrand Editora, Lda., Novembro de 2000)
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