Voltei a Gavinhos em 2014 e lembrei-me de D. Quixote de la Mancha...
«Nisto descobriram os trinta a quarenta moinhos de vento que há naquelas paragens. Mal D. Quixote deu com os olhos neles, disse para o escudeiro:
- Estamos com sorte, muito mais sorte do que aquilo que podíamos desejar. Abre-me os olhos e repara… repara-me para aqueles trinta e tantos desaforados gigantes! Vou-me a pelejar com eles e tirar-lhes a vida. Os despojos pertencem-nos e assim começaremos a erguer fortuna. E boa guerra é, que nada pode ser mais do agrado de Deus que riscar esta raça maldita da face da terra.
- Que gigantes? – interrogou Sancho.
- Aqueles que além vês de braços desmesurados. Alguns medem quase duas léguas de comprido…
- Atente bem, Vossa Mercê. O que se descortina além fora não são gigantes, mas moinhos de vento. E o que parecem braços não são senão as velas que, sopradas pela aragem, fazem girar as mós.
- Bem se vê que és um pexote em matéria de aventuras. São gigantes, que to digo eu. Se tens medo, põe-te de largo e reza enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha. (…)»
Miguel de Cervantes in D. Quixote de la Mancha, versão de Aquilino Ribeiro (Capítulo VIII, págs. 62 e 63), Bertrand Editora, Lda., Novembro de 2000)
M
1 comentário:
Fizeste-me lembrar António Gedeão, todo o poema é lindo e contraditório, como as gentes:
"Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes"...
B
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