quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Duas figuras desengraçadas, coitadas

 

Foto de M

Uma fotografia sem graça nenhuma, eu sei, mas elas também são desengraçadas, coitadas. Têm direito ao descanso em sofá mole e baixo, o que não têm é estrutura física para se dobrarem e nele se aconchegarem. Ao contrário de mim que me lembro como era bom executar esse movimento articulado mas, ai!, de momento é-me proibido exemplificá-lo. Bem, de futuro também não é recomendável sentar-me ali, deverei utilizar cadeiras altas de assento rijo. Pois é, falo destas duas figuras hirtas, esqueléticas, porque têm sido o meu transporte privado nos últimos tempos. Identificadas com as iniciais do meu nome, não vá dar-se o caso de fugirem ao meu controle e eu ficar completamente apeada. Pacientes, sensíveis às dificuldades de mobilidade alheias, estão sempre presentes em lugares estratégicos, embora com direito a períodos de repouso. No entanto, da sua experiência de auxiliares de seres humanos em crise, e pelo que vão observando em mim, sabem que brevemente serão dispensadas do serviço para o qual as requisitei e voltarão a residir na arrecadação onde existem os mais diversos habitantes com histórias para contar. Adormecidas algumas no Tempo que passa e deixa rasto.

M

2 comentários:

Justine disse...

Um texto excelente! Irónico mas reconhecendo a ajuda dos dois, o texto elogia educadamente a importância que eles tiveram nestes momentos da tua vida e trata-os carinhosamente.
O teu post está perfeito, M.

Anónimo disse...

Óptimo que já possas ironizar sobre as pernas sobresselentes dando contudo às inanimadas um toque da tua graça. Que pasmem em silêncio na arrecadação, é sinal que as tuas melhoras são autênticas! B