segunda-feira, 24 de maio de 2010

110.


Foto de M

É afectuoso, este rolo que sustém o silvo húmido do vento. Fez do parapeito da minha janela a sua casa, quase uma praia com flores em dunas macias sempre que o sol descansa nele, tórrido e enxuto. Ali permanece dia e noite, no silêncio de si mesmo, paciente, atento aos passos que dou e não dou, aos gestos ora indolentes ora vigorosos que me escapam dos braços, ao meu olhar por adivinhar absorvido nele. E o meu corpo nesse vaivém de tarefas que se insinuam no tempo e que com ele fogem, apenas uma ou outra pegada resistente ao anonimato desenhada no chão da memória.
M

6 comentários:

Justine disse...

A humanização dos objectos, que tu fazes tão bem neste texto luminoso!
Beijo

Mónica disse...

à espreita para fora e para dentro :D

Anónimo disse...

Temos objectos que não falam verbalmente mas acabam por comunicar de outras formas directamente connosco. Como este texto bem ilustra.
Beijos
TD

Licínia Quitério disse...

Os teus objectos pertencem-te, não no sentido de posse material, mas existem por ti e contigo. São teus quando os nomeias. É muito bonito este pensar sobre e com o inanimado. Muito teu.

Beijinho.

bettips disse...

Não me dão "o tempo": eu roubo-o, aos bocados, na feitura da minha vida.
Por isso me vou repetir sem vos ler como vos gosto. Deixo abraços porque me sois belos.

Manuel Veiga disse...

derrama-se o teu olhar pelas coisas mais banais e screscentas-lhe sentido na subtil distância que vai do olhar ao coração.

amorável texto.

beijos