Foto de M
Um pouco insólita me pareceu a presença daquela rapariga à janela. Imóvel, não sei se agastada se pensativa, aparentemente decepado o corpo pela cintura. O que não me admiraria, pois a guilhotina foi expediente de franceses de outros tempos para resolver problemas de poder e esta menina estava em terras de França. Sim, eu sei, neste caso não se terá passado exactamente da mesma maneira. Ao contrário do acto sanguinário de então, sobreviveram incólumes a cabeça e parte do tronco, sendo a persiana, plástica, suponho, um meio de amputação menos pesado. Mas o melhor é considerar hipóteses mais lúdicas, como por exemplo habilidades de mágico cortando o corpo da assistente de sorriso confiante, para logo depois o recompor perante a perplexidade dos espectadores. Enfim, os pormenores da concepção e execução da obra pouco me importam. O que realmente lamento é não ter conhecido o seu autor para lhe confessar o meu apreço pela genialidade da ideia e pelo simbolismo que nela encontro. Por vezes, separar a cabeça da estrutura de que faz parte permite uma certa libertação do pensamento.
4 comentários:
E eu tenho o privilégio de conhecer a autora da divertida fotografia e do excelente texto!
Admiro o teu olhar:-))
Esta cabeça a pensar na janela, assim posta em sossego,
é um achado risonho, uma beleza!
Bjs da bettips
de um lirismo encantador!
... na verdade a foto é Poesia - assim olhada!
beijo
isto merece um sorriso, estás a ficar surrealista
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