quarta-feira, 12 de março de 2014

201.


Foto de M


Um pouco insólita me pareceu a presença daquela rapariga à janela. Imóvel, não sei se agastada se pensativa, aparentemente decepado o corpo pela cintura. O que não me admiraria, pois a guilhotina foi expediente de franceses de outros tempos para resolver problemas de poder e esta menina estava em terras de França. Sim, eu sei, neste caso não se terá passado exactamente da mesma maneira. Ao contrário do acto sanguinário de então, sobreviveram incólumes a cabeça e parte do tronco, sendo a persiana, plástica, suponho, um meio de amputação menos pesado. Mas o melhor é considerar hipóteses mais lúdicas, como por exemplo habilidades de mágico cortando o corpo da assistente de sorriso confiante, para logo depois o recompor perante a perplexidade dos espectadores. Enfim, os pormenores da concepção e execução da obra pouco me importam. O que realmente lamento é não ter conhecido o seu autor para lhe confessar o meu apreço pela genialidade da ideia e pelo simbolismo que nela encontro. Por vezes, separar a cabeça da estrutura de que faz parte permite uma certa libertação do pensamento.

M

4 comentários:

Justine disse...

E eu tenho o privilégio de conhecer a autora da divertida fotografia e do excelente texto!
Admiro o teu olhar:-))

Anónimo disse...

Esta cabeça a pensar na janela, assim posta em sossego,
é um achado risonho, uma beleza!
Bjs da bettips

Manuel Veiga disse...

de um lirismo encantador!

... na verdade a foto é Poesia - assim olhada!

beijo

Mónica disse...

isto merece um sorriso, estás a ficar surrealista