Foto de M
Tivesse
eu visto o seu rosto, quem sabe seria capaz de entender o que lhe ia
na alma.
Eu
estava por ali e reparei nela à distância. Impressionaram-me o
desalinho da sua figura e a total imobilidade em que se manteve
durante a hora e meia em que permaneci no jardim. Interroguei-me, e
interrogo-me ainda, sobre quais seriam os seus pensamentos.
Contemplaria calada, ou até de olhos fechados, o rio da saudade de
longínqua terra muito sua? Que pobreza a afligiria? Não sei, não
lhe vi o rosto. Talvez estivesse feliz. Talvez lhe bastasse poder
sentar-se à beira de um rio azul. Talvez fosse essa a sua única
riqueza. Eu vim embora sem nada conhecer da mulher. Ela ficou.
M
6 comentários:
É uma foto perturbadora, M.: o contraste entre a serenidade da paisagem e o ar sofrido/dorido/desarrumado da figura humana (assim a sinto...)é inquietante!
dói demasiado a face negra da vida...
tantas vezes.
beijo
Olá, M.
Quantas histórias caladas, perdidas no silêncio e nas ausências.
Quantas vezes agradeço que não vejam o meu rosto...
bj
O lado oculto da perturbadora existência de tantos seres humanos.
Sensível imagem e texto.
Grata.
Cogito. No que nos juntou, nos fios: agora tu, no mesmo ar, amanhã eu, respirando "magenta". Que vida é a de viver? que vida é a de recordar? que Parcas nos tecem? que apoio nos damos? que vento nos levará?
Assim, ou recordando o fulgor súbito das manhãs (não sei, li e ouvi dizer) nas árvores de África. Ficamos, até onde nos for possível.
A poucas horas de aterrar perto.
E tanto, o longe.
Bjinho na volta, da bettips
Uma impressionante simetria no desalinho da figura. Afinal, do outro nunca sabemos nada.
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