Foto de M
Desproporção.
A palavra surgiu no meu olhar mal cheguei ao terreiro repleto de
gente entre o Palácio do Louvre e o Jardim das Tulherias e os vi
ajoelhados no chão, como se rezassem, indiferentes aos passos de
quem atravessava aquela aparente terra de ninguém. Eram seis, com as
suas lojas ambulantes de chapéus, óculos escuros da moda,
bugigangas e souvenirs
para
todos os gostos. Organizavam, uma vez mais, os objectos que breves
momentos antes, suponho que a um sinal de aviso combinado, tinham
enrolado à pressa nos seus panos-montras como precaução para uma
fuga iminente. A polícia não apareceu, pelo menos por agora podiam
sossegar. A escassos metros, as sólidas paredes do Louvre
contrastavam com a fragilidade da existência humana. E eu,
testemunha muda, reflectia sobre a realidade que me cercava e me
afligia. Este homem em particular impressionou-me. Senti-me comovida
pela delicadeza com que pegava nas pequenas réplicas da Torre Eiffel
e as colocava em pé, bem alinhadas, tentando cativar o olhar dos
transeuntes. Pensei, procurando encontrar algum consolo dentro de
mim: talvez só por amar muito o que tem para vender ele consiga
sobreviver entre as dicotomias da cidade imensa.
M
4 comentários:
Contrastes tão dolorosos que os teus olhos percebem.
Gostei muito. Nas paisagens idênticas, uma visão delicada e tua, das diferenças humanas.
beijo.
sensível e inteligente, pois claro!
beijo
A tua sensibilidade e as misérias humanas na bela cidade!
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