sábado, 3 de outubro de 2020

JARDIM BOTÂNICO TROPICAL DE BELÉM XI

Desconformidade e Incómodo, duas palavras presentes na minha cabeça desde aquele dia de agosto em que visitei o jardim. De início um pouco baças, hesitantes, sem eu saber exactamente se eram as palavras que melhor se adequavam ao que sentia, foram-se tornando mais claras à medida que voltei lá através da Internet. 

O meu olhar fixou-se nas árvores e plantas magníficas e únicas trazidas de outros continentes, e quase ignorei algumas obras ainda em curso. Apesar de, antes da reabertura do jardim ao público no início de 2020, tivessem sido feitas intervenções nas infraestruturas básicas como os caminhos, o lago, as condutas de águas, da rega, da energia e alguns edifícios, encontrei ainda outros a necessitar de melhores dias. Pelo que li, farão parte de uma segunda fase de reabilitações.  

Longa é a história do jardim, desde a sua criação como «(…) Jardim Colonial a 25 de Janeiro de 1906 pelo rei D. Carlos I, sob tutela do antigo Instituto Superior de Agronomia, localizando-se nas Estufas do Conde de Farrobo (actualmente o Jardim Zoológico de Lisboa). Funcionaria posteriormente como centro de investigação do Instituto das Ciências Tropicais.» Mais tarde, em 1912, foi instalado no espaço actual, passando a funcionar no Palácio dos Condes da Calheta o Museu Agrícola e Colonial e a implantação do jardim nos terrenos em Belém dirigida por Henry Navel, jardineiro paisagista francês. «Durante a Exposição do Mundo Português, em 1940, o jardim albergou a Secção Colonial, tendo na "Ilha das Fruteiras", localizada no centro do lago, chegado a habitar membros de uma tribo do Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, à semelhança do que aconteceu noutros "Zoos Humanos" da época. De entre as alterações que se realizaram temporariamente para a Exposição conta-se ainda a construção de pequenos pavilhões que pretendiam representar a totalidade das colónias portuguesas. "Angola e Moçambique" estavam representadas juntas num só pavilhão desenhado por António Lino (construído em torno do Palácio dos Condes da Calheta), a "Guiné" num pavilhão desenhado por Gonçalo de Mello Breyner, as "Possessões Insulares" (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor) eram representadas por um pavilhão da autoria de Vasco Regaleira, por fim a "Índia" encontrava-se instalada numa típica casa colonial, como (erradamente) se esperava que todas fossem nas colónias portuguesas. Foi também temporariamente erguida uma igreja da autoria de Raul Xavier. (...)»

O Arco de Macau, uma das duas entradas de acesso ao Jardim Oriental é uma réplica do arco do pagode da barra de Macau construída para a Exposição do Mundo Português de 1940. Em 1944, mais uma alteração de nome. Passa a chamar-se Jardim e Museu Agrícola Colonial, ficando a depender da Junta de Investigações do Ultramar. 
Por fim, depois de ainda algumas mudanças, é classificado em 2007 pelo Ministério da Cultura como Monumento Nacional, passando a chamar-se Jardim Botânico Tropical e é actualmente gerido em conjunto com o Museu Nacional de História Natural e o Jardim Botânico de Lisboa. 
O que vi e li sobre este jardim, desde os nomes que lhe têm sido atribuídos, as entidades de quem tem dependido, as intervenções feitas pelas políticas vigentes ao longo dos 114 anos da sua existência na História do país explicam por que razão escolhi no início do meu post as palavras Desconformidade e Incómodo. Felizmente, o nome actual parece-me fazer mais sentido e revelar maior liberdade de pensamento.

M

Fotos de M 

https://museus.ulisboa.pt/pt-pt/jardim-botanico-tropical

1 comentário:

Mónica disse...

experiências com plantas, animais e pessoas, pode ser divertido cientificamente, mas assustador