Ao ignorar o verde, não se apresentando nesta parede de Óbidos na ordem estabelecida na fita do arco-íris celeste, foi este azul ousado. Ou então teria sentido saudades do aconchego do amarelo. Ou ele ou quem dele se serviu para manifestar em público a sua preferência estética a respeito de combinação de cores. Por mim tudo bem. Adoro a alegria de ambas.
Na verdade até apetece meter o azul debaixo do braço, vestirmo-nos com ele e assim andarmos acompanhados pelas ruas das cidades.
Que engraçado, dei agora conta que nesta rua da Baixa de Lisboa também existe a proximidade entre o azul (nesta casa um pouco desmaiado) e o amarelo. Não o vemos mas aqueles cabos no ar revelam que passam por aqui eléctricos, e bem amarelos são eles, levando-nos alguns à beira do rio.
Ah como é bom sentar ali em dias de sol! Ou depois ir ao Jardim do Museu Gulbenkian e descobrir que até um pato tem um toque de azul entre as suas penas.
E laranja nas patas a dar-lhe personalidade. É assim a versatilidade do arco-iris. Amamo-lo e usamo-lo ao nosso gosto.
Diversa é Lisboa e por isso vale a pena ir passear um pouco mais longe do centro. Espera-nos a zona da Expo, também ela à beira rio, cheia de vida e cor nos edifícios construídos há bem menos tempo que os da Baixa. Espraiamos aqui o nosso olhar de certo modo modernizado e purificamos os pulmões.
Por vezes o azul encanta-se com o olhar curioso dos meninos e brilha neles para sempre. Outras vezes...
... brinca com os meninos às escondidas. Ou transborda para as roupas tomando tonalidades diferentes.
São belas as flores e os muretes azuis dos jardins entre os verdes e os lilases do Monte Selvagem.
Ou no Jardim de Serralves nos encanta uma obra de Olafur Eliassen no meio do arvoredo com o céu azul como cenário.
E que importa se o pássaro não é verdadeiro, basta que faça parte da decoração de uma festa de crianças e elas o imaginem a cantar.
Delicado é o azul nas suas tonalidades, gracioso fica ele nas mãos desta figura feminina que encontro à entrada do Museu da Cidade em Lisboa e de cujo autor não me lembro do nome.
E da paisagem dos azulejos por trás dela vou para outros azulejos mais longe, para o Buçaco. É lá também que as hortenses crescem belíssimas na humidade da mata.
E para Vouzela sigo com muito prazer, onde existem casas antigas e da estrada vejo água a correr entre o arvoredo como uma serpentina azul.
De outras águas me lembro também. Desço até ao Alentejo e aos seus azuis, que eles também por lá pousam entre outras cores que nos aconchegam a alma. Ficam assim guardados na memória de dias luminosos no Outeiro do Barro, na marina da Amieira e no ancoradouro da Amieira.
E a propósito de lembranças de cores, neste meu passeio pelo azul e pelas suas tonalidades pintadas na minha vida, acrescento mais este boulevard inesquecível e os barcos de brincar nas águas do lago do Jardin du Luxembourg por onde andei há muitos anos.
E por aqui me fico hoje. Muitos mais azuis existem no meu mundo mas nem tudo cabe neste espaço. Bem disse eu lá em cima que gosto de azul e que apetece metê-lo debaixo do braço e viajar com ele, neste caso através da memória. Não me aconteceu o mesmo que ao menino deste postal antigo enviado à minha tia por uma sua prima. Não me sinto blue e, pelo contrário, as saudades que eu pudesse ter destes azuis da minha vida revitalizaram todas as outras cores que existem dentro de mim.
M
3 comentários:
Uma beleza em tons de azul-memória. A brincar com olhos e paisagens.
Que me faz esquecer o "blue" dos dias.
Lindo.
B
tão giro, o nunca mais acabar de azul, gostei dos olhos azuis, do pormenor do pato, dos prédios, sei lá tantos azuis. detalhes azuis e fundos azuis
azul de memória como diz a B
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