Foto de M
Em criança tive poucos brinquedos. Entretinha-me com várias actividades que eram em si mesmas brinquedos para mim. Fazia bolas de sabão à janela e ficava a vê-las subir até ao céu. Brincava com um ioiô de plástico amarelo que adorava. Gostava de cestos miniaturas que me lembravam os cestos verdadeiros com frutas dentro que havia na praça. Era neles que resguardava pequenos objectos. Outras vezes vestia as bonecas de cartolina em tamanho reduzido que tinham pertencido à minha Avó em criança. Ficavam elegantíssimas com as suas toiletes em papel de vestidos, casacos compridos e chapéus que se usavam no século 19. Saltava à corda, andava de trotinete na Tapada da Ajuda. Jogava às cartas, lia, pintava com os lápis da minha caixa de lápis de cor. Vestia as roupas da minha Mãe, calçava os seus sapatos de salto alto, punha os seus chapéus na cabeça e via-me ao espelho. Tinha um amor especial a um boneco de celuloide (o único brinquedo que guardei) com cerca de 13 cm que levava para a praia com um fato de banho azul tricotado pela minha Mãe e a quem dava banho nas poças de água do mar. No entanto, lembro-me que sonhava ter um que se assemelhasse mais às crianças de verdade. Então, já com idade para ter juízo, comprei o bebé da fotografia acima. Para mim! Os meus filhos eram adultos e nem netos tinha eu nessa altura! Este bebé sim, parecia de carne e osso! Uma amiga habilidosa fez-lhe um enxoval para acrescentar ao babygrow que ele trouxe da loja. Tricotou uma manta, casaquinhos, gorros e botas em lãs de várias cores, bordou lençóis, almofada e colcha para a cama. Anos mais tarde, foi vestido e despido por todos os meus netos, passeado ao colo envolto num xaile, alimentado com biberão e colher de papa. Tinham-no conhecido em minha casa desde que nasceram, partilhavam o mesmo espaço de brincadeiras, era como um irmão mais novo ou um primo com quem se identificavam, suponho. Os anos passaram, os meninos cresceram, deixaram de brincar com ele, apenas sorriem quando o veem. Eu continuo sem juízo, a encantar-me sempre que, pela manhã, abro a persiana do quarto dos netos e o encontro a dormir agarrado ao seu companheiro de bons sonhos.
M
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