Foto de M
Gosto de janelas, os seus vidros como presença entre distância e proximidade. Gosto destas gotas de água a deslizarem devagarinho, desmanchando o peso tornado insuportável de nuvens negras. Posso tocar-lhes através da superfície fria, um afago partilhado, quase pele com pele. Pelo contrário, não gosto de quedas de água irascíveis, ruidosas, atiradas do alto como setas afiadas contra o meu olhar em busca da proximidade possível na distância. Valem-me as cortinas. À semelhança das cortinas de palco de teatro abrindo-se e fechando-se sobre as cenas da peça mostrada ao público.
M
Foto de M
E, ainda que de modo diferente, também nesta fotografia vejo o vidro do janelão da belíssima estação ferroviária Berlin Hauptbahnhof como presença entre distância e proximidade. E conto o que lá se passou comigo quando fotografava aquele espaço cheio de gente em movimento, sem prestar atenção às comunicações sobre partidas e chegadas de comboios transmitidas pelos altifalantes. Felizmente a minha amiga Mena estava atenta: Estão a avisar que não se pode fotografar. Não faço ideia se o aviso era automaticamente lançado por uma gravação ou se, por questões de segurança, todos nós estaríamos num ecrã observado por algum funcionário diligente. Fiquei espantada com a eficiência daquele “olho” invisível. Lá está, a proximidade na distância.
M
2 comentários:
Janelas com as lágrimas da chuva caseira, olhos que se não vêem no janelão estrangeiro. Duas belas observações.
a segunda fotografia parece aqueles documentos que têm uma marca de água. as tuas fotografias levam à associação de ideias inesperadas. o teu primeiro texto apanhou-me de surpresa: eu gosto da chuva em setas afiadas (adoro esta tua analogia) e as pingas que escorrem irritam-me porque a seguir tenho que ir limpar as janelas, mas o teu texto desmanchou-me
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